Porque é que abandonar as redes sociais pode ser a chave para a felicidade?

Enquanto os psicólogos alertam para os efeitos negativos que a comparação nas redes sociais tem sobre a saúde mental, um novo conceito está a ajudar as pessoas a recuperar o seu tempo, paz e vida.

By Esra Karataş Alpay
FOMO e JOMO / TRT World

Para muitos, as manhãs não começam com uma chávena de café ou um passeio no parque, mas sim com uma navegação pelas redes sociais. Alguns até acordam a meio da noite para verificar as notificações ou os gostos na última selfie.

Para uma geração viciada em redes sociais e notícias online, notificações, gostos e vídeos ditam o ritmo do dia.

Os psicólogos dizem que por trás dessa obsessão existe uma ansiedade constante de que a vida está a acontecer em outro lugar, no feed de outra pessoa, descrita pela sigla FOMO — o medo de ficar de fora.

Mas, à medida que o mundo se cansa do bombardeio constante de informações, um novo conceito está a ganhar atenção entre os estudiosos: JOMO, ou a alegria de ficar de fora.

O conceito de JOMO recentemente entrou na literatura académica graças a um estudo internacional liderado por pesquisadores da Washington State University e várias universidades turcas. Publicado na revista científica Psychological Reports, o estudo entrevistou 932 utilizadores de redes sociais em 29 províncias da Türkiye, com idades entre 18 e 45 anos.

Os resultados revelaram que as pessoas que se desconectam deliberadamente das redes sociais relatam níveis mais baixos de stress, ansiedade, solidão e depressão, e níveis mais altos de satisfação com a vida.

Enquanto o FOMO gera inquietação e comparação, o JOMO convida as pessoas a saborearem o momento presente e a tratarem o facto de estarem offline como uma libertação, em vez de uma privação.

«Aqueles que realmente gostam de estar offline correm o menor risco de dependência das redes sociais», escreveu Adem Kantar, um dos autores do estudo.

«Eles não se sentem entediados quando estão sozinhos e encontram maneiras gratificantes de passar o tempo sem precisar de um público digital. No mundo de hoje, as pessoas estão tão ocupadas a tentar acompanhar tudo que acabam por perder as suas próprias vidas.»

«Todos parecem felizes»

A psicóloga clínica Fazilet Seyitoglu, sediada em Istambul, que aconselha casais e jovens, alerta que o uso excessivo das redes sociais não é apenas uma distração, mas uma importante fonte de sofrimento emocional.

«Passar muito tempo online está fortemente associado à depressão e à ansiedade», afirma Seyitoglu à TRT World. «Quando as pessoas observam constantemente a vida dos outros, acabam por negligenciar as suas próprias vidas e, pior ainda, sentem-se insatisfeitas consigo mesmas.»

Ela observa que o que é apresentado online é muitas vezes uma ilusão.

«No ecrã, todos parecem infinitamente felizes. Mas ninguém vê o que está por trás dessas fotos brilhantes: as discussões, a solidão, a exaustão e até mesmo as dívidas. As redes sociais são um mundo de felicidade artificial.»

Essa ilusão, argumenta Seyitoglu, alimenta uma cultura de comparação constante. Marcos da vida — baby showers, despedidas de solteiro, noivados, aniversários — são cada vez mais realizados para as câmaras.

“O que deveria ser momentos íntimos em família agora são espetáculos encenados de gastos e glamour”, observa ela.

“As adolescentes, por exemplo, sentem-se pressionadas a comprar inúmeros produtos de beleza para parecerem jovens e perfeitas — quando já são jovens e bonitas.”

Os efeitos também se refletem nos casamentos. Muitos homens, diz Seyitoglu, queixam-se nas sessões de terapia que as suas esposas esperam presentes e gestos inspirados no que viram online.

«Essas exigências não nascem de um desejo real, mas da comparação», explica ela. «As redes sociais ensinam as pessoas a medir o amor através da exibição material.»

Vozes de uma geração mais jovem

Além dos especialistas, os próprios jovens estão a começar a expressar o custo da conectividade constante.

Uma jovem, que falou com a TRT World sob condição de anonimato, descreve a sua decisão de abandonar as redes sociais.

«Apaguei todas as minhas contas há seis meses», diz ela.

«No início, foi estranho, como se tivesse perdido uma parte da minha identidade. Mas agora os meus dias são preenchidos com meditação, caminhadas tranquilas e tempo para mim mesma.»

Ela acrescenta que os seus níveis de ansiedade diminuíram e que se sente mais satisfeita do que nunca, em comparação com quando passava o tempo a percorrer feeds intermináveis.

«Finalmente percebi que não estava a perder nada — se é que estava a perder alguma coisa, era a minha própria vida, enquanto ficava a olhar para um ecrã.»

Rumo à alegria e à gratidão

O JOMO oferece um contraponto, dizem os especialistas.

Em vez de perseguir o que os outros estão a fazer, enfatiza a presença, a gratidão e a aceitação.

O estudo descobriu que as pessoas que abraçaram o JOMO são mais propensas a desfrutar de atividades solitárias — ler, caminhar, escrever um diário, ouvir música ou simplesmente saborear o silêncio — sem sentir a necessidade de as divulgar.

“Cada um de nós já tem uma lista de coisas pelas quais ser grato”, diz Seyitoglu. “Em vez de perguntar: ‘Por que não tenho o que os outros têm?’, podemos perguntar: ‘O que me fez sorrir hoje? Que alegria simples pertence apenas a mim?’. É aí que realmente reside a felicidade.”

À medida que o mundo digital se acelera, o JOMO pode parecer contracultural, até mesmo rebelde. No entanto, os psicólogos não o vêem como um afastamento, mas como um ato de reequilíbrio — uma forma de recuperar a beleza comum da vida da tirania da comparação sem fim.

A mudança do FOMO para o JOMO, sugere Seyitoglu, não significa abandonar completamente as redes sociais, mas sim mudar a relação que se tem com elas.

«Quando se deixa de perseguir a vida dos outros», diz ela, «redescobre-se a sua própria vida.»