Os recentes incidentes e desenvolvimentos relativos ao genocídio israelita em Gaza demonstraram que os EUA podem não exercer tanta influência sobre as políticas de Israel como geralmente se pensa e que a realidade pode mesmo ser o oposto, afirmou o Ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan.
"Como sabem, há muito que existe uma realidade na política interna americana relativamente a quem controla e gere quem. Os acontecimentos recentes mostraram que os EUA não têm tanta influência sobre as políticas de Israel como se supõe; pode até ser o contrário", disse Fidan na quinta-feira, comentando as discussões que continuam com o Presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a paz em Gaza e a estabilidade na Síria.
Fidan sublinhou que Israel tem sido sempre um problema para a região desde que se apoderou de terras palestinianas e que todos os países da região apoiam a solução de dois Estados com base nas fronteiras de 1967.
"No entanto, Israel nunca quis verdadeiramente uma solução de dois Estados. Tem prosseguido sistematicamente uma política de apropriação de terras palestinianas para além das fronteiras de 1967, utilizando a segurança como desculpa", afirmou Fidan numa entrevista ao canal de televisão MBC MASR.
"Nesta altura, este tem sido o maior problema para o mundo muçulmano durante décadas. Nos últimos anos, o expansionismo israelita tornou-se uma ameaça oficial para a região, para além da opressão contínua na Palestina", acrescentou.
Sublinhando a importância da cimeira de emergência árabe-islâmica de Doha, Fidan afirmou que a reunião pôs em evidência o expansionismo de Israel.
"Continuaremos a opor-nos e a trabalhar contra o genocídio em curso em Gaza e as tentativas de Israel de anexar a Cisjordânia, e lutaremos pela criação de um Estado palestiniano. Isto é indispensável para a paz regional", acrescentou.
Israel explora a fraqueza dos vizinhos
O diplomata exortou os países da região e a comunidade mundial a abordarem as políticas expansionistas de Israel, apelando à adoção de medidas adequadas a este respeito.
"Isto é extremamente importante. Não é bom nem para Israel, nem para os países da região. Infelizmente, Israel retira a sua segurança das fraquezas políticas e económicas e do atraso tecnológico dos países que lhe estão próximos", acrescentou.
“Por exemplo, a sua ocupação no Líbano, a sua presença na Síria, os ataques contra o Irão, o ataque contínuo a zonas civis no Iémen, a destruição sistemática de infra-estruturas e, mais recentemente, o ataque ao Catar.”
Fidan afirmou que o recente ataque israelita aos líderes do Hamas em Doha “mudou muitas coisas, enquanto os esforços de mediação estão em curso”.
Fidan sublinhou o fracasso dos actores internacionais em resolver o genocídio de Israel em Gaza, a guerra Rússia-Ucrânia e outros conflitos, afirmando que o sistema atual tende a “alimentar as crises em vez de fornecer soluções”.
Para Fidan, os blocos, alianças e organismos mundiais, nomeadamente a UE e a ONU, são muitas vezes insuficientes para resolver os problemas mundiais.
"A estrutura das Nações Unidas, em especial o Conselho de Segurança, parece inadequada para resolver estas questões. É necessária uma reforma do Conselho de Segurança e da ONU no seu conjunto", afirmou Fidan, apelando à implementação de mecanismos de decisão mais inclusivos e participativos.
“Se essas reformas não se concretizarem, como referiu, é inevitável que surjam actores regionais alternativos - como os BRICS, a Organização de Cooperação de Xangai, a ASEAN e muitos outros não enumerados aqui - que procurem abordagens diferentes.”
Israel tem levado a cabo um genocídio em Gaza desde outubro de 2023. Os palestinianos registaram o assassinato de mais de 65 200 pessoas, a maioria das quais mulheres e crianças.
Segundo a agência noticiosa palestiniana WAFA, cerca de 11 000 palestinianos estão enterrados sob os escombros das casas aniquiladas.
No entanto, os peritos afirmam que o número real de mortos excede significativamente o que as autoridades de Gaza comunicaram, estimando que poderá rondar os 200 000.
