Opinião
TÜRKİYE
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Boa COP, má COP: A diplomacia da cimeira e a candidatura de Türkiye à Conferência do Clima de 2026
A legitimidade da presidência da COP31 assenta na capacidade, equidade e inclusão — princípios que a Türkiye invoca para defender que será um anfitrião credível e construtivo.
Boa COP, má COP: A diplomacia da cimeira e a candidatura de Türkiye à Conferência do Clima de 2026
Presidente Erdogan faz uma declaração durante a conferência da ONU sobre alterações climáticas COP29, em Baku / Reuters
16 de outubro de 2025

A Conferência das Partes (COP) da ONU é a cimeira diplomática anual mundial no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, em que os governos analisam os progressos, estabelecem regras e negociam financiamento e adaptação.

A sua presidência é rotativa por região e é escolhida não pelo espetáculo, mas pela administração: manter quase 190 países à mesa e apresentar resultados.

Com a COP31 marcada para 2026, a disputa para sediar o evento intensificou-se, transformando-se numa luta diplomática. O que deveria ser uma rotação de rotina corre agora o risco de transformar a presidência numa questão de direito, em vez de capacidade.

Para 2026, a sede será do Grupo da Europa Ocidental e Outros (WEOG). A Austrália e a Türkiye são os dois candidatos. O secretariado climático da ONU instou os dois países a resolverem o impasse.

Caso o acordo não seja alcançado, a COP será realizada em Bona, na Alemanha, um resultado amplamente considerado indesejável.

Direito e a questão do consenso

A tentativa da Austrália de se apresentar como a COP do Pacífico é mais do que projetar ambição. Ao sugerir um direito de facto à presidência e pressionar Ancara a desistir, os decisores australianos reformulam as regras do consenso como obstrução.

Para Ancara, a mudança carrega o peso da injustiça. Depois de apresentar a sua candidatura à COP27, a Türkiye agora está a enquadrar a sua candidatura à COP31 em torno do seu papel como ponte entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, destacando tanto a geografia quanto o posicionamento político. Ancara enfatizou que a Türkiye oferece capacidade de convocação enraizada no seu clima diversificado, estrutura económica e localização estratégica.

A Türkiye posicionou-se com base nisto. No início de julho de 2025, a Lei do Clima entrou em vigor, dando ao país o seu primeiro quadro jurídico abrangente para a ação climática.

O Presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou publicamente a sua importância, sinalizando que a política climática agora faz parte da estratégia política mais ampla do país, que inclui disposições para um sistema de comércio de emissões e se baseia na meta de longo prazo de zero emissões líquidas da Türkiye.

A capacidade institucional também foi reforçada, com a expansão do Ministério do Ambiente, Urbanização e Alterações Climáticas e a criação de uma Direção dedicada às Alterações Climáticas para impulsionar a implementação.

Considerando estes avanços na ação climática, a Türkiye traz consigo um trunfo adicional e igualmente vital: uma diplomacia comprovada ao mais alto nível, indispensável para uma liderança bem-sucedida da COP.

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A cimeira como encenação do poder

As cimeiras são plataformas preciosas: reúnem decisores para mediar disputas, definir agendas e moldar narrativas, todas funções essenciais da diplomacia. O anfitrião geralmente detém a vantagem, usando o palco para projetar liderança, ganhar respeito e construir confiança.

Embora a diplomacia de cimeiras seja frequentemente associada a fóruns de segurança de alto risco, como a NATO, as COP mostram que as questões ambientais também proporcionam uma arena influente para o envolvimento diplomático.

Nos últimos anos, Ancara mediou negociações difíceis, desde a organização de conversações entre a Rússia e a Ucrânia e a facilitação de trocas de prisioneiros, até à mediação de um acordo de paz histórico entre a Etiópia e a Somália através do Processo de Ancara.

Estes esforços demonstram que a Türkiye consegue manter os canais de comunicação abertos quando outros não conseguem.

Visto através das lentes da diplomacia de cimeiras, a Türkiye destaca-se como um mediador e anfitrião comprovado na política internacional. O seu histórico mostra não só capacidade logística, mas também a capacidade de criar confiança entre adversários.

A mesma capacidade ficou evidente na Iniciativa dos Cereais do Mar Negro de 2022, que a Türkiye ajudou a negociar para garantir as exportações de cereais ucranianos e evitar uma crise alimentar global.

Plataformas como o Fórum Diplomático de Antália, criado como um centro de diálogo multilateral, reforçam esse papel, proporcionando um espaço para conversações de alto nível sobre segurança regional e normalização.

Olhando para o futuro, a intenção da Türkiye de sediar a Cimeira da NATO de 2026 em Ancara ressalta o seu peso estratégico. Servindo como uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, o país tem demonstrado consistentemente a habilidade necessária para reunir diversos atores, precisamente a qualidade que uma presidência da COP exige.

Assim, a Türkiye, por sua vez, rejeita a ideia de que está a bloquear por interesse próprio. Ancara insiste que não existe um direito automático à presidência, apenas o dever de chegar a um consenso. Destaca o seu historial de mediação e novas iniciativas como prova da sua seriedade.

O facto de o debate estar agora enquadrado em termos de um candidato «legítimo» versus um candidato «não legítimo» expõe um problema mais profundo; não só na forma como as presidências da COP são organizadas, mas também na condução da diplomacia de cimeiras de forma mais ampla.

A COP como mecanismo, não como um momento

A noção de que as COP são «menos sérias» do que as cimeiras de segurança deve ser descartada: estão agora entre os maiores encontros recorrentes na política global.

Como o desafio climático não pode ser resolvido de uma vez por todas, as COP funcionam como mecanismos para monitorizar a implementação, reforçar a responsabilização e tornar os esforços visíveis, em vez de eventos pontuais relacionados com tratados. 

A justiça é fundamental aqui. A justiça processual garante eficiência e legitimidade; a justiça distributiva, quem suporta quais encargos, quem recebe apoio, também deve ser negociada e acompanhada.

O anfitrião não determina a distribuição sozinho, mas pode canalizar as discussões para quadros tangíveis onde a responsabilização e a cooperação são definidas de forma clara e justa.

As cimeiras são maiores do que as negociações bilaterais, mas o princípio é o mesmo: a capacidade de permanecer objetivo, manter todas as partes interessadas à mesa e gerir um processo de forma inclusiva. Trata-se de competência processual e reconhecimento mútuo na prática.

É aqui que entra a justiça processual: um envolvimento credível e amplo das partes interessadas, tanto dos atores poderosos como dos mais pequenos, para que todos se sintam visíveis e levados a sério.

O que significará a escolha da COP31

Uma COP na Türkiye enfatizaria a implementação, a inclusão e a aproximação entre regiões. A incapacidade de chegar a um acordo sobre o anfitrião prejudicaria a credibilidade da própria COP, reduzindo o seu poder de mobilizar ações.

A Türkiye retirou a sua candidatura à COP26 a favor do Reino Unido e, agora, a disputa pela COP31 corre o risco de repetir essa dinâmica, com um candidato considerado o herdeiro legítimo e o outro pressionado a desaparecer.

A crise ambiental já está na agenda da maioria dos Estados. O que importa agora é como os compromissos são implementados, como a responsabilização é assegurada e como os encargos são distribuídos de forma justa.

O local e o anfitrião sinalizarão a intenção. A Türkiye sinalizaria uma busca por soluções tangíveis e viáveis e uma implementação colaborativa. Mas, com pouco tempo restante antes da COP31, prevista para o final de 2026, o relógio está a correr e é necessário chegar a um consenso para que a cimeira mantenha a sua credibilidade.

A verdadeira questão é quem pode orientar o processo de forma credível, mantendo diversas vozes envolvidas e conduzindo as negociações para resultados viáveis. Nesse aspeto, a Türkiye apresenta-se como um candidato preparado e equilibrado.

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