As Nações Unidas disseram estar "profundamente preocupadas" com o número de civis que fogem da violência no norte de Moçambique, onde estimam que cerca de 300.000 pessoas tenham sido forçadas a deslocar-se nos últimos meses.
Uma insurgência na província de Cabo Delgado causou a morte de mais de 6.200 pessoas, segundo o grupo de monitorização global de conflitos ACLED. A violência também se expandiu para a província vizinha de Nampula.
Na terça-feira, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) disse que a violência forçou quase 100.000 pessoas a fugirem da região apenas nas últimas duas semanas.
E, nos últimos três meses, "no mínimo 287.000" pessoas fugiram, segundo o representante do ACNUR, Xavier Creach.
"Eu diria que este número corresponde apenas às pessoas que foram registadas", afirmou ele em mensagem aos jornalistas em Genebra, acrescentando que "muitos mais" casos individuais não foram registados.
"Acho que podemos falar aproximadamente de um mínimo de 300.000 deslocados naquela região desde julho", disse ele.
'Ataques intensificados'
Desde então, a agência observou "ataques cada vez mais intensos contra aldeias e a rápida propagação do conflito para distritos anteriormente seguros", tornando mais difícil a prestação de ajuda humanitária.
Creach descreveu "necessidades muito desafiantes" na região e uma "resposta largamente insuficiente".
"Os atores humanitários, coletivamente... não conseguem sustentar a resposta sem apoio e recursos adicionais", disse o ACNUR num comunicado, pedindo "apoio internacional urgente".
Desde que o conflito atual irrompeu em 2017, mais de 1,3 milhão de pessoas em Moçambique foram forçadas a deslocar-se, segundo a agência.
'Novos riscos'
Mulheres e meninas enfrentam riscos acrescidos, disse ele, especialmente porque a crise desenrola-se durante os 16 Dias de Activismo contra a violência baseada no género. Abrigos comunitários sem iluminação e sem privacidade estão a expô‑las a "novos riscos de violência sexual e de género", enquanto pessoas idosas e com deficiências têm dificuldades em locais inacessíveis, salientou o representante.
Crianças chegam "exaustas, traumatizadas e enfraquecidas depois de dias a caminhar", muitas desacompanhadas ou separadas das famílias, afirmou Creach.
Equipas humanitárias estão a trabalhar para identificar pessoas em risco elevado, reunir famílias e fornecer aconselhamento, kits de dignidade e dispositivos de mobilidade, mas avisou que os recursos estão a esgotar-se.
Com o financiamento para 2025 em apenas 50% das necessidades e a procura a aumentar de forma acentuada, o ACNUR apelou a um apoio internacional urgente, afirmando que os atores humanitários "não conseguem sustentar a resposta sem apoio e recursos adicionais".
Nos últimos meses, a violência intensificou‑se: os 17 distritos de Cabo Delgado foram afetados, e cerca de 22.000 pessoas deslocaram-se numa única semana.
A violência crescente desencadeou uma das piores crises humanitárias da região em anos, com centenas de milhares de pessoas deslocadas e uma pressão enorme sobre alimentos, água e serviços.









