O Primeiro-Ministro francês, Sébastien Lecornu, apresentou a sua renúncia ao Presidente Emmanuel Macron, poucos dias após anunciar um novo gabinete que enfrentou críticas rápidas e intensas de todo o espectro político.
Na segunda-feira, Macron aceitou a renúncia de Lecornu, conforme relatado pela emissora BFM TV, citando o Palácio do Eliseu.
Lecornu, nomeado há menos de um mês após o colapso do governo de François Bayrou, apresentou no domingo um gabinete amplamente inalterado. O anúncio gerou uma reação imediata, com líderes da oposição a acusar Macron de ignorar os apelos dos eleitores por renovação.
“A escolha de manter este governo inalterado, temperado com o homem que levou a França à falência, é patética”, escreveu Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional, na plataforma X, referindo-se ao regresso do ex-ministro das Finanças Bruno Le Maire como chefe da Defesa.
A líder do Partido Verde, Marine Tondelier, afirmou que os aliados de Macron levaram o seu “desprezo pela democracia a um novo nível”, enquanto o líder socialista Boris Vallaud acusou o governo de “mergulhar o país mais profundamente no caos a cada dia que passa.”
O Ministro do Interior, Bruno Retailleau, declarou que convocaria um comité estratégico dos Republicanos para avaliar as consequências políticas, acrescentando que o novo gabinete “não reflete a ruptura prometida.”
Um gabinete de curta duração
Sob o governo proposto por Lecornu, Roland Lescure, membro do partido Renascimento de Macron, foi indicado como ministro das Finanças, enquanto Bruno Le Maire regressou ao governo como ministro da Defesa — um movimento visto como simbólico da relutância de Macron em mudar de direção.
Outras nomeações incluíram Eric Woerth como ministro da Organização Territorial, Naïma Moutchou para Transformação e Assuntos Digitais, Mathieu Lefevre para Relações Parlamentares e Marina Ferrari para Desporto e Juventude. Figuras-chave como o Ministro dos Negócios Estranegiros, Jean-Noël Barrot, o Ministro da Justiça, Gérald Darmanin, e a Ministra da Educação, Élisabeth Borne, mantiveram os seus cargos.
A renúncia de Lecornu marca mais um revés para Macron, cuja presidência tem sido marcada por instabilidade no gabinete e polarização política crescente num contexto de inflação alta e a descontentamento público com medidas de austeridade.
Sébastien Lecornu, um primeiro-ministro recordista
A renúncia de Lecornu estabeleceu vários recordes políticos na história moderna da França. Ele tornou-se o primeiro-ministro com o mandato mais curto, durando apenas 27 dias no cargo, e supervisionou o período mais longo sem um governo, de 26 dias.
Sua administração também foi o governo de vida mais curta, colapsando apenas 12 horas após sua formação. Lecornu é o único primeiro-ministro francês que nunca apresentou uma declaração de política geral ao parlamento.
Renúncias recentes de primeiros-ministros franceses
François Bayrou (agosto–setembro de 2025)
O governo de Bayrou colapsou em 8 de setembro, menos de dois meses após assumir o cargo, quando perdeu um voto de confiança na Assembleia Nacional. A sua proposta de um rigoroso plano de austeridade de €44 mil milhões para conter a dívida pública da França — que atingiu 115% do PIB — alienou legisladores de esquerda e direita. O seu fracasso destacou as profundas divisões sobre a reforma fiscal no segundo mandato de Macron.
Michel Barnier (abril–dezembro de 2024)
O veterano negociador da UE, Michel Barnier, foi forçado a renunciar em dezembro de 2024, após o seu governo não conseguir a aprovação parlamentar para o orçamento de 2025. Uma rara aliança entre partidos de esquerda e extrema-direita uniu-se para aprovar uma moção de censura, condenando a agenda de austeridade de Barnier e acusando o governo de não abordar a desigualdade e o aumento do custo de vida.
Élisabeth Borne (maio de 2022–abril de 2024)
Borne renunciou em abril de 2024 após dois anos turbulentos marcados por protestos generalizados contra reformas previdenciárias, que aumentaram a idade de reforma e desencadearam meses de greves. Apesar de sobreviver a várias moções de censura, ela renunciou devido a crescentes divisões dentro da coligação centrista de Macron e a queda na aprovação pública.
