Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em toda a Europa na quinta-feira para protestar contra o ataque de Israel à Flotilha Global Sumud, que navegava em direção a Gaza com ajuda humanitária quando as embarcações foram interceptadas e apreendidas pelas forças israelitas.
A flotilha, descrita pelos organizadores como o maior esforço coordenado para entregar ajuda por via marítima, foi atacada no dia 1 de outubro ao se aproximar das águas palestinianas. A marinha israelita tomou à força dezenas de barcos e deteve centenas de passageiros, incluindo cidadãos de vários países europeus.
Na França, manifestantes reuniram-se na histórica Place de la République, em Paris, para denunciar o ataque. Segurando bandeiras palestinas, a multidão entoou slogans como "Israel fora, a Palestina não é tua" e "Viva a Palestina".
Os manifestantes exigiram a libertação dos ativistas da flotilha, entre eles cidadãos franceses, que permanecem detidos em Israel.
Na Bélgica, centenas de pessoas reuniram-se em Bruxelas, em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, num protesto organizado por vários grupos da sociedade civil.
Os manifestantes marcharam sob o tema "Todos os olhos em Gaza", agitando bandeiras palestinianas e usando keffiyehs como símbolo de solidariedade. O protesto seguiu do Ministério dos Negócios Estrangeiros até à Praça de Luxemburgo, em frente ao Parlamento Europeu, onde a multidão entoou "Palestina Livre", "Solidariedade com a Palestina" e "Liberdade para Gaza".

Os manifestantes pediram que as instituições belgas e da União Europeia intensifiquem o apoio à flotilha e ao povo palestiniano.
Na Espanha, manifestações de solidariedade ocorreram em 24 grandes cidades, lideradas por vários grupos da sociedade civil e partidos políticos.
Madrid e Barcelona tornaram-se pontos focais das manifestações. Milhares reuniram-se em frente à residência do Ministério dos Negócios Estrangeiros no Palácio de Santa Cruz, em Madrid, exigindo a libertação imediata dos membros da flotilha detidos e pedindo ao governo que imponha sanções mais severas ao governo do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.
Gritos de "Boicote a Israel", "Parem o genocídio" e "Palestina Livre" ecoaram pela capital, enquanto alguns manifestantes tentaram bloquear as principais vias, levando a breves confrontos com a polícia.
Em Barcelona, as manifestações ocorreram tanto no porto de onde a flotilha partiu no dia 30 de agosto quanto em frente ao Consulado de Israel. Famílias dos detidos juntaram-se aos ativistas, exigindo ação diplomática urgente.
Protestos semelhantes foram relatados em Valência, Pamplona, Toledo, Sevilha e Bilbao, com marchas no fim de semana previstas para atrair multidões ainda maiores.
A indignação também se refletiu na política local. Na assembelia regional de Madrid, o partido de esquerda Más Madrid exibiu uma bandeira da Palestina dentro do plenário, provocando disputas com membros do conservador Partido Popular.
No parlamento de Aragão, parlamentares observaram um minuto de silêncio por Gaza e pela flotilha, embora representantes do partido de extrema-direita Vox tenham saído em protesto.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Espanha, José Manuel Albares, iniciou o que os media locais chamaram de "diplomacia telefónica", conversando com seus homólogos na Türkiye, Bélgica, Irlanda, Brasil e com a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, para terem uma posição conjunta em defesa dos membros da flotilha.
Na Suíça, milhares protestaram na Praça Lisa Girardin, em Genebra, entoando slogans em francês, árabe e inglês. Os manifestantes exigiram o fim do bloqueio de Israel e pediram a entrega ilimitada de ajuda humanitária a Gaza.
Manifestações também foram relatadas em Berna, Basileia, Lugano, Lucerna e Zurique. O protesto em Genebra durou horas sob forte presença policial e terminou sem incidentes.
No Reino Unido, centenas reuniram-se na Parliament Square, em Londres, antes de marchar em direção a Whitehall, onde estão localizados os escritórios do governo. Manifestantes agitaram bandeiras palestinianas e gritaram "Palestina Livre" e "Não bombardeiem Gaza".
À medida que a multidão ocupava as ruas, o tráfego foi interrompido, com alguns motoristas de autocarros a buzinar em solidariedade. A polícia posteriormente bloqueou os manifestantes de avançarem até a Trafalgar Square, levando a confrontos e várias detenções. Protestos menores também foram relatados em outras partes da capital.
Na Grécia, milhares marcharam em Atenas em direção à Embaixada de Israel, entoando "Fim ao genocídio em Gaza" e "Quebrem o bloqueio, libertem a Palestina".
Os organizadores leram uma declaração conjunta condenando Israel por violar o direito internacional e enfatizando que a missão da flotilha era uma tentativa legítima de entregar ajuda humanitária.
Protestos paralelos ocorreram em Tessalónica, Patras, Chania, Lesbos, Chios, Volos e Larissa, com os participantes a pedir a libertação imediata dos 27 cidadãos gregos detidos na flotilha.

As forças navais israelitas atacaram a flotilha quando esta se aproximava da costa de Gaza na noite de quarta-feira e detiveram pelo menos 443 ativistas a bordo, segundo os organizadores.
O Comité Internacional para Romper o Cerco a Gaza (ICBSG) confirmou que 22 navios foram atacados e apreendidos pelas forças israelitas, e acredita-se que outros 19 tenham sido atacados, mas ainda não foram documentados.
Dos quatro navios restantes, dois navios de apoio regressaram, enquanto o navio Marinette continuou a navegar em direção a Gaza, mas ainda estava longe devido a atrasos causados por falhas técnicas, acrescentou o comité.
A flotilha, carregada principalmente com ajuda humanitária e suprimentos médicos, partiu no final de agosto. Foi a primeira vez em anos que cerca de 50 navios navegaram juntos em direção a Gaza, transportando centenas de apoiantes civis.
Israel mantém um bloqueio a Gaza, lar de quase 2,4 milhões de pessoas, há quase 18 anos, e apertou ainda mais o cerco em março, quando fechou passagens fronteiriças e bloqueou entregas de alimentos e medicamentos, levando o enclave à fome.
Desde outubro de 2023, os bombardeamentos israelitas mataram mais de 66.200 palestinianos, a maioria mulheres e crianças.
A ONU e grandes organizações de direitos humanos alertaram repetidamente que o enclave sob ocupação está a tornar-se inabitável, com a fome e doenças a espalhar-se rapidamente.