A violência num comício na capital do Peru na quarta-feira causou um morto e dezenas de feridos, afirmou o Presidente José Jeri, cuja tomada de posse, realizada há poucos dias, não conseguiu conter os protestos contra a classe política do país.
Manifestações lideradas por jovens levaram milhares de peruanos às ruas de Lima e de várias outras cidades, frustrados com a incapacidade das autoridades em resolver a crescente crise de criminalidade.
"Atualização: 55 polícias feridos" e "20 civis feridos", disse Jeri nas redes sociais, atualizando os números anteriores dos confrontos próximos do Congresso, no centro de Lima.
Minutos depois, o presidente anunciou que uma pessoa faleceu durante os protestos.
Protestos em massa
O país sul-americano tem sido abalado por protestos há semanas, e os legisladores votaram na sexta-feira para destituir a então Presidente Dina Boluarte, a quem os críticos atribuem a culpa da crise.
Jeri, um político de direita que foi presidente do Congresso, tornou-se presidente interino até as eleições previstas para abril.
Os protestos de quarta-feira foram convocados por um coletivo liderado por jovens, grupos de artistas e sindicatos.
Ao cair da noite, alguns manifestantes tentaram romper a barreira de segurança ao redor do Congresso, relatou um correspondente da AFP. Alguns na multidão também lançaram pedras e acenderam fogos de artifício.
A polícia, equipada com equipamento de choque, respondeu com gás lacrimogéneo.
"Acho que há um descontentamento geral porque nada foi feito", disse Amanda Meza, uma freelancer de 49 anos, à AFP enquanto marchava em direção ao Congresso.
"Não há segurança por parte do estado", afirmou ela. "Extorsões, assassinatos... cresceram massivamente no Peru."
Destituição de Boluarte
A destituição de Boluarte ocorreu após protestos de empresas de autocarros, comerciantes e estudantes contra extorsões por gangues criminosas — e ataques àqueles que se recusam a pagar dinheiro de proteção.
Extorsão e assassinatos por encomenda têm sido uma característica da vida cotidiana em todo o país sul-americano.
Gangues como Los Pulpos e o Tren de Aragua, da Venezuela, que opera em toda a América Latina, sequestram pessoas de todas as classes sociais para obter resgate.
Jeri tentou acalmar os protestos prometendo «declarar guerra» ao crime organizado.
Separadamente, um juiz peruano rejeitou na quarta-feira uma tentativa de impedir a ex-presidente Dina Boluarte, que o Congresso destituiu abruptamente na semana passada, de deixar o país enquanto os promotores públicos a investigam por suposto abuso de poder e lavagem de dinheiro.
Boluarte, uma das líderes menos populares do mundo, deixou o cargo com índices de aprovação entre 2% e 4%, perante a crescente agitação social devido à insegurança, com os trabalhadores dos transportes e os jovens a protestarem contra o aumento das extorsões e dos homicídios.
Boluarte, que enfrenta uma série de acusações criminais, negou qualquer irregularidade.